A ameaça de desabastecimento se cumpriu e todos os postos de Cuiabá abriram ontem suas portas sem o Gás Natural Veicular (GNV) para atender a frota de carros. Na Grande Cuiabá calcula-se que cerca de 400 veículos – entre particulares e taxistas – utilizem a matriz, considerada a mais econômica em relação aos demais tipos de combustíveis. O anúncio da interrupção no fornecimento foi feito na sexta-feira pelo engenheiro Francisco Jamal Soares de Almeida, da GNC/MT, empresa responsável pelo transporte e distribuição de gás natural, em Mato Grosso, e noticiado com exclusividade pelo Diário. O último suprimento aos postos havia sido feito na quinta-feira (31) e, no sábado, algumas revendas já não tinham mais o produto.

A interrupção no fornecimento pegou de surpresa motoristas e até proprietários de postos. “Não esperávamos por esta nova paralisação, justamente no momento em que a Petrobras acabava de assinar um contrato de locação com a termelétrica de Cuiabá”, disse um gerente.

Com o fim dos estoques de GNV, os motoristas estão sendo obrigados a abastecer com etanol ou gasolina. “É uma pena que tenham deixado isso acontecer”, lamentou o taxista Antônio Carlos Soares da Silva, com “ponto” na região central de Cuiabá. Abastecendo com GNV, ele economizava até 70% em relação ao etanol e à gasolina, considerando os preços atuais dos combustíveis. “Meu lucro vai diminuir, pois não posso repassar o aumento na despesa com combustíveis nos preços das corridas. Infelizmente, não conseguiram impedir que mais este vexame viesse a ocorrer”, disse.

Segundo representantes de postos revendedores, a culpa pela falta de GNV, em Mato Grosso, é do governo do Estado, que compra o produto por meio da Companhia Mato-grossense de Gás (MT Gás). “Eles conversam, negociam, mas não resolvem nada. No ano passado chegaram até a ir à Bolívia, para conversar com a turma do Evo [Morales, presidente boliviano]. Mas até agora não vemos nenhum progresso nas negociações e nenhum acordo foi assinado para garantir o fornecimento com volume e prazo definidos. Não vemos nada de concreto e o projeto do gás está caindo cada vez mais no descrédito da sociedade”, criticou o empresário Ranmed Moussa, proprietário do Posto Metropolitano. Ele investiu cerca de R$ 700 mil na implantação do gás em seu posto e até agora não pagou nem a metade do investimento. “A dívida vai até 2014. Se continuarmos sem gás, quem vai pagar esta conta?”.

Moussa critica também os incentivadores do projeto. “Vimos autoridades e parlamentares aparecendo na televisão para fazer propaganda do gás natural. Agora que a situação vai de mal a pior, não aparece ninguém para dar uma explicação. Existe de fato má vontade para resolver o problema e, infelizmente, nós, empresários e investidores, nada podemos fazer. Não temos perspectiva de nada”.

Hugo Arima de Almeida, gerente do posto Ferrari, diz que todos perdem com a interrupção no fornecimento. “Nosso posto abastecia mais de 100 táxis por dia, em torno de 600 a 800 metros cúbicos de GNV. Com a paralisação, todos terão prejuízos”. Segundo ele, o mercado, que já estava ruim, “vai ficar pior caso o abastecimento não seja retomado imediatamente”.

Funcionários do Posto 14 Bis, em Várzea Grande, contam que o dono do posto, Marcelino Marques, ficou “muito desolado” com a interrupção no fornecimento. “O posto fez um investimento muito alto para implantar o sistema e ainda não terminou de pagar as prestações. Não sabemos de onde vamos tirar o dinheiro”.

PERDAS – Em 2008, quando o fornecimento de gás pela Bolívia foi interrompido pela primeira vez, as revendas chegaram a mover ações contra o governo do Estado e a MT Gás, para exigir o ressarcimento dos prejuízos durante o período de paralisação do abastecimento.


Marcondes Maciel, Diário de Cuiabá/MT