O deficit no mercado de etanol hidratado está limitando a renda do setor sucroenergético. Hoje, existe uma demanda anual reprimida de 5 bilhões de litros de etanol hidratado, consumo potencial que está sendo transferido para a gasolina devido ao aumento de preço do hidratado, motivado pela oferta apertada do produto.
Um exercício com base nos 5 bilhões de litros de álcool que não estão sendo consumidos por falta de oferta -e considerando um preço hipotético do hidratado nas bombas de R$ 1,50 por litro e lucro líquido de R$ 0,10 por litro na usina- mostra que o setor está transferindo para a gasolina um faturamento anual de R$ 7,5 bilhões e que as usinas deixam de ter lucro de R$ 500 milhões por ano.
Em 2010, o consumo interno de etanol hidratado caiu para 15 bilhões de litros, ante 16,5 bilhões de litros no ano anterior. Já o consumo de gasolina aumentou de 25,4 bilhões de litros em 2009 para quase 30 bilhões em 2010.
E o pior: foram importados, no ano passado, 505 milhões de litros de gasolina, ante apenas 22 milhões em 2009. Hoje, o Nordeste está importando etanol dos Estados Unidos.
Ao mesmo tempo, a frota de automóveis flex continua crescendo. Em 2010, foram vendidos mais de 3 milhões de carros e a frota flex chegou a 12,5 milhões de unidades, 43% do total brasileiro.
Se 80% da frota flex optasse pelo etanol, o consumo anual seria de 20 bilhões de litros, ante 15 bilhões de litros em 2010, o que resulta no deficit de 5 bilhões de litros.
Só nos dois primeiros meses de 2011 foram vendidos mais 500 mil carros, 12 mil por dia útil, ou um veículo a cada dois segundos -crescimento de 15% ante 2010.
Mantido o atual ritmo, até o final do ano a frota flex terá 15,5 milhões de unidades e consumo potencial anual de 25 bilhões de litros de etanol hidratado.
Assim, com a safra atual, o deficit aumentaria para 10 bilhões de litros.
Resultado: ao final deste ano, com o novo volume da frota, a cadeia sucroenergética deixaria de faturar R$ 15 bilhões por ano e as usinas, de lucrar R$ 1 bilhão.
Contudo, é importante observar que 25% da gasolina é composta de etanol anidro e, portanto, uma parte da renda obtida com a venda de gasolina retorna às usinas, diminuindo essa perda.
Essa lacuna na oferta é resultado da crise de preços e de crédito de 2007/8, evento que solapou o endividado setor sucroenergético.
O efeito mais pernóstico foi a transferência de grande volume de investimentos (das tradings, petroleiras, fundos e outros) destinado à construção de usinas novas (“greenfields”) para a compra de usinas já existentes (“brownfields”).
Hoje, o mercado clama por mais 15 grandes usinas, que, se aí estivessem, trariam toda essa renda para o bolso da cadeia sucroenergética.
Em um cenário onde o consumo de açúcar, de etanol, de energia elétrica, de plástico e de diesel, entre outros, só tende a crescer, e com o barril de petróleo na casa de US$ 100, Brasília precisa focar sua estratégia na cana, rapidamente.
Fonte: UDOP