A escalada dos preços do álcool — que chegou a R$ 2,797 nas bombas no Rio, como mostrou O GLOBO ontem — deverá ser interrompida dentro de 15 a 20 dias, quando diversas usinas já estarão em operação de moagem da safra de cana-de-açúcar. A previsão é do secretário de Produção e Agroenergia do Ministério da Agricultura, Manoel Bertone. Ele admitiu que a oferta de etanol não atende completamente à demanda interna, mas assegurou que não haverá surpresas até a situação se normalizar, como a redução da mistura de álcool anidro à gasolina, para ampliar a oferta de álcool hidratado (combustível) no mercado, ou a taxação da exportação de açúcar, evitando-se, assim, desabastecimento doméstico.

— O álcool a R$ 2,20 é demonstração clara de falta de produção — disse Bertone.

Investimentos para sanear empresas, e não para plantio

Segundo o secretário — que representa a pasta da Agricultura em um grupo de monitoramento do qual também participam os ministérios da Fazenda e de Minas e Energia —, o país precisa de um novo ciclo de investimentos para os próximos dez anos. São necessários, no período, cerca de R$ 160 bilhões, para que a produção de cana passe das atuais 640 milhões de toneladas para algo em torno de 1,4 bilhão de toneladas até 2022.

Com a escassez da oferta de álcool, o Brasil já importou cerca de 300 milhões de litros de etanol americano este ano.

— Precisamos ter estabilidade de políticas públicas. Não está faltando álcool anidro, o problema é a insuficiência do álcool hidratado (combustível). Se o investidor acha que o governo vai diminuir a mistura, nem sequer consegue fazer os cálculos, o que geraria incertezas sobre investimentos — argumentou.

Bertone afirmou não ser verdade que houve queda de investimentos no setor, por causa da crise financeira internacional:

— Não foram investimentos de aumento de área. Os recursos se dirigiram ao saneamento do setor, com as empresas maiores comprando as menores que estavam em dificuldades. O setor está pronto para investir e teve um choque de gestão.

Com isso, o governo federal estuda medidas de longo prazo, como a concessão de incentivos para a melhoria da eficiência energética dos carros flex. A União também vai negociar com os estados produtores a redução do ICMS.

— Precisamos criar condições para que esse novo ciclo de investimentos seja concretizado. O setor é estratégico, fornece energia e traz vantagens enormes à sociedade brasileira dos pontos de vista geopolítico, ambiental, de geração de desenvolvimento regional, distribuição de renda e saúde pública — defendeu Bertone.


Eliane Oliveira, O Globo