O aumento do preço do álcool – que ficou 11% mais caro em março na comparação com fevereiro e passou a representar 79% do preço da gasolina na média do país – provocou uma profunda alteração no mercado de combustíveis. Informações preliminares do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis (Sindicom) mostram que na semana passada (últimos dados de março), as vendas de álcool caíram 60% em volume em relação à média semanal registrada em janeiro e fevereiro, enquanto as de gasolina aumentaram 21% na mesma comparação. Essa mudança no perfil de consumo obrigou a Petrobras a aumentar em caráter emergencial as importações de gasolina. Nesse momento, contudo, o preço doméstico está mais barato que o do mercado internacional, o que vai provocar prejuízo para a estatal.

Atualmente o preço da gasolina no mercado americano está 14% mais alto que o preço local. É isso que mostra pesquisa feita pelo Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE) a pedido do Valor, comparando o preço do mercado americano com o de venda nas refinarias da Petrobras.

O percentual toma como base os preços médios de referência praticados no mercado do Golfo do México em março. Como a Petrobras já importou 1,5 milhão de barris de gasolina – como informou na semana passada o diretor de Abastecimento, Paulo Roberto Costa -, essa compra pode representar um prejuízo de R$ 62 milhões para a estatal. Isso porque a Petrobras estaria deixando de repassar uma diferença de R$ 0,26 por litro entre o preço de aquisição (R$ 1,31 por litro, já incluído frete e armazenamento) e o de venda no mercado doméstico, a R$ 1,015 por litro, excluída a Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico). Cálculo feito por um banco de investimentos consultado pelo Valor chega a um valor maior, de R$ 71,6 milhões, considerando os preços do mercado ontem. O valor final efetivo vai depender do preço de aquisição da estatal mais os custos de importação e frete, que ela não divulga.

Paulo Roberto Costa, homenageado ontem pela Câmara Municipal do Rio com a Medalha Pedro Ernesto, não confirma esses números e nem revela os custos com importação, dizendo que são parte de uma negociação comercial. Mas acha que o Brasil importa muito pouca gasolina. Ele lembrou que no ano passado as importações – que foram de 3 milhões de barris – foram suficientes para 10 dias do consumo interno, enquanto as deste ano, de 1,5 milhão de barris, são suficientes para atender entre quatro e cinco dias de consumo.

O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, ressaltou que o atual preço da gasolina é fortemente influenciado pelo etanol, e não pelo mercado internacional. Segundo ele, o consumidor brasileiro pode optar por mais gasolina, mas lembrou que se o consumo continuar aumentando, e considerando que a Petrobras está no limite da produção, será necessário importar mais.

O diretor financeiro da companhia, Almir Barbassa, garantiu ao Valor que a companhia não está tendo prejuízo com as importações. “Passamos dois anos vendendo acima do mercado internacional. Essa é a nossa política de preços que se insiste em revogar ou esquecer. O importante dessa política é que ela visa realizar um lucro médio, sem picos e nem vales”, afirma.

Segundo o executivo, essa prática tem a vantagem de trazer uma geração de caixa estável e de não levar ao consumidor o efeito nocivo da volatilidade. Para o investidor, Barbassa avalia que o resultado, na média, fica igual ao que se teria com uma política de reajuste ajustada no curto prazo.

Mesmo assim, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse que o governo está acompanhando de perto o mercado de combustíveis. “Nós estamos resistindo com o preço atual na tentativa de não elevar o preço na bomba de combustível. Mas se os preços continuarem se elevando, será inevitável”, disse Lobão, lembrando que no último reajuste, em 2008, o preço caiu. “Há nove anos que não se altera o preço do combustível para mais”, frisou Lobão.