Depois de dizer insistentemente que o preço da gasolina no Brasil não seria pautado pelo mercado internacional, o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, voltou atrás e admitiu ontem que poderá haver reajuste se o preço do petróleo tipo Brent permanecer no atual patamar. Horas depois, no entanto, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que “não está prevista nenhuma alta da gasolina no Brasil”.

Gabrielli alegou que uma variação muito grande de preços no mercado internacional prejudica a margem de lucro das refinarias. Na manhã de ontem, o barril do petróleo do tipo Brent atingiu a sua maior cotação em dois anos e meio, a US$ 123, por causa da crise na Líbia. Dois meses atrás, de acordo com o próprio Gabrielli, o valor não passava de US$ 100.

— Se se confirmar a estabilização do preço do petróleo no plano internacional em torno de US$ 122, vamos ter de alterar o preço da gasolina no Brasil. Nós não sabemos se os preços vão se consolidar nesse nível, mas, se consolidarem, evidentemente teremos compressão em nossa margem e precisaremos ajustar o preço doméstico — afirmou Gabrielli, logo após participar de um encontro com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.

Consumidor já paga mais nas bombas – O presidente da estatal lembrou que o preço da gasolina pura da Petrobras (tipo A), sem etanol, está inalterado desde maio de 2009, em torno de R$ 1 o litro. Nas bombas, no entanto, o preço é mais alto e vem subindo por causa de repasse de encargos com impostos estaduais, custo de distribuição e aumentos constantes no preço do álcool anidro, que é misturado à gasolina na proporção de 25%.

Gabrielli disse ainda que no próximo dia 15 chegará ao país uma carga reserva de importação de petróleo. Se essa carga não for suficiente para suprir a demanda, a companhia poderá fazer um novo pedido, já que a Petrobras está no limite de sua capacidade de produção. A demanda por gasolina aumenta à medida que o preço do álcool sobe nas bombas.

— Se a demanda (por gasolina) se contrair e se a oferta de etanol aumentar, fazendo o preço do etanol cair, haverá menos demanda e não precisaremos importar — disse.

Apesar de a Petrobras não reajustar seus preços para as refinarias desde 2009, os consumidores estão pagando mais caro pela gasolina e o diesel nas bombas. No Rio, na semana passada, postos vendiam a gasolina a R$ 3,098 o litro, 23,6% a mais do que a média de R$ 2,502 de 2009. O mercado de distribuição é livre, não tem os preços controlados.

Horas depois, porém, o ministro Mantega contradisse Gabrielli, ao afirmar que não há nenhuma previsão de alta nos preços da gasolina no país.

— Não estou preocupado com a alta da gasolina porque não há alta da gasolina. Não está prevista nenhuma alta da gasolina no Brasil. Ela não vai subir — afirmou o ministro.

Mantega também comentou a elevação dos preços do etanol por causa da entressafra:

— O álcool subiu porque todo ano neste período ele sobe, por causa da entressafra. Todo mundo sabe. E também é devido a chuvas mais demoradas que prejudicaram a colheita. Mas, a partir de abril, a safra começa a ser colhida, aumenta a oferta e, a partir de maio, o preço passa a cair.

Protesto contra alta chega ao Twitter – A declaração de Gabrielli, de que o preço da gasolina pode aumentar, causou revolta no Twitter. Os internautas estão organizando um boicote aos postos BR, utilizando o marcador #boicotepostosbr. O termo é o terceiro mais falado no brasil, na lista dos Trending Topics do microblog. O primeiro termo mais citado, absoluto há mais de três dias, também relacionado ao preço dos combustíveis, é #combustivelmaisbaratoja.

Em entrevista, o presidente da Petrobras disse também que a aquisição da Gas Brasiliano pela estatal, em maio do ano passado, está em fase final de avaliação e que ele só vai se pronunciar depois disso. O negócio está sendo analisado pela Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo (Arsesp). Logo após a reunião com Alckmin, Gabrielli disse que a Petrobras tem plano de investir US$ 33 bilhões no estado nos próximos quatro anos, mas cobrou agilidade na liberação de licenças ambientais aos projetos da companhia.

Gabrielli disse ainda que a estatal deverá iniciar até o fim deste mês as operações de um gasoduto que ligará a unidade de tratamento de gás em Caraguatatuba a Taubaté, no interior paulista, e que está atento ao aumento da demanda por gás natural de indústrias e de usinas termelétricas em São Paulo.